OS PETISCOS DA SILENCIOSA RUA DO AEROPORTO
Josette Lassance (2015)

Existe um restaurante charmoso ao fundo do aeroporto da Cidade do Porto chamado “Banquinho”.
Lá à noite, em plena primavera, com o sol se pondo às nove da noite, um senhor simpático e sua família prepara os mais sonhados petiscos da silenciosa rua. Um neon minúsculo se mistura às folhas da pequena árvore da fachada, sem piscar, onde também no pátio são servidas guarnições de porco, bifes, sopas, bacalhau e legumes. Ali almoçam e jantam os funcionários das empresas aéreas e alguns hóspedes dos hotéis dos arredores.

O caminho até o “boteco” é feito de uma alameda larga, onde ao meio um trilho divide a rua da última estação dos “comboios”. O caminho é cercado por casas silenciosas e jardins, onde os muros com suas tonalidades brancas e beges, tornam o ambiente retrô, com ares fotográficos de dos anos 60 e 70.
Gosto dessas sensações vibrantes e de suas misturas atemporais – como o barulho de sirenes de usinas e de  pessoas caminhando com suas sombras escorridas feitas pelas luzes amarelas dos postes. O céu se abrindo, as nuvens me remetem estranhas figuras mitológicas universais, como símbolos que atravessam o mundo físico. Por lá, grandes aviões penetram em seus mistérios.

Em todas as cidades do mundo pairam sensações de estranheza por onde se flutuam. 
Na rua silenciosa, as casas por fora e quem as habitam, o som das salas de jantar, as pegadas nas escadarias, o ladrar dos cães nos portões, e o eco dos passos na rua me trazem lembranças estranhas.

Sinto o vento frio entrando nos casacos e nos sobretudos dos transeuntes. O vinho na mesa. As conversas no restaurante. Uma alegria interna invade o cheiro da comida entranhado nas roupas dos cozinheiros.
   
Volto caminhando para o hotel d`onde viajaria de madrugada para o Brasil. Dormir é o mistério de nosso desaparecimento. Amanhece e atravesso a passarela de concreto com uma malinha de rodinhas marrom e uma mochila de trinta litros quase vazia. As primeiras andorinhas voam perto dos aviões, desses imaginários pássaros gigantes que costumam enganar andorinhas em seu nobre ofício em fazer verão. 

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